O meu nascimento
Que triste foi esse dia
Foi para todos um sofrimento
Em lugar de ser de alegria
Todos esperavam um rapaz
Porque já havia seis raparigas
Ninguém da família foi capaz
De me receber com alegria
Nem um beijo ou carinho
Recebe a chegada
Fiquei com a parteira sozinha
Ficou toda a família zangada
Mas que culpa tive eu
Não pedi para nascer
Era um membro da família
Não era maneira de me receber
E foi assim pela vida toda
Sem carinho nem família
Parece que tive a culpa
Só vim roubar-lhes a alegria
Nestes versos de pé quebrado
É um mundo trapalhão
É neste mundo atribulado
Que sinto o meu coração
A minha alma está vazia
A minha cabeça está oca
A minha alma está fria
E estou a ficar louca
Os dias vão passando
A minha vida vai atrás
Tenho que me ir conformando
Não posso voltar atrás
Tive um derrame cerebral
Nunca mais fiquei bem
Se já escrevia mal
Agora nem bem nem mal
A velhice é muito triste
Nem me apetece viver
Perde-se o gosto e desiste
Só me apetece morrer
Eu falo por mim
Já nada posso fazer
Eu já nem posso andar
Nem me posso mexer
Vivo uma grande solidão
Nem a família já se tem
A vida é uma podridão
Já não conto com ninguém
Venho a morrer sozinha
Mas que diferença faz
Encolhem os ombros
E dizem, vai em Paz!
Quando for para o crematório
É horrível, toda a gente diz
Pois eu acho que para mim
É o dia mais feliz
Ali tudo acaba
Desprezo, dores, desilusões
Não é mais nada
Nem preciso de orações
Não preciso de acompanhamento
Se em vida vivi sozinha
Não é nesse momento
Que preciso de companhia
Felicito-a pela sua coragem, bem como pela emotividade que transmite nos versos.
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